OS KAINGANGS
Os jesuítas, nos primeiros contatos com povos indígenas, os classificaram em dois grandes grupos linguísticos: os Tupis, de “língua geral”, e os Tapuias, de “língua travada”. Posteriormente, os Tapuias ficaram identificados como Jês.
Os Kaingangs, os mais numerosos povos indígenas do Brasil meridional, pertencem à família Jê. Ocupavam áreas que iam desde o oeste paulista até o norte do Rio Grande do Sul. Foram encontrados em grandes tribos nos vales dos Rios Peixe e Feio (Aguapeí), que circundam a região de Presidente Alves. Nas florestas da região, abundava-se o pau d’álho, árvore que deu característica olfativa ao ambiente em que os Kaingangs viviam. Eles possuíam tradição nômade, em que as tribos se deslocavam por localidades nunca muito distantes das de origem.
Eles preferiam habitar os campos. As batalhas contra os exploradores, entretanto, obrigaram-nos a buscar refúgio nas matas fechadas, quase impenetráveis, na busca pela chance da sobrevivência. Conhecer as florestas e saber se esconder nelas era a única vantagem que os Kaingangs podiam utilizar para se protegerem da truculência dos bugreiros.
O termo Kaingang significa “gente do mato”. A organização social Kaingang é dividida em dois clãs: os kamé e os kairú, que são definidos segundo suas descendências. Durante o kiki, seu principal evento cerimonial, os clãs são identificados através de pinturas faciais. Os kamé utilizam motivos compridos e os kairú, redondos.
O xamã Kaingang, chamado de kuiã, adquire poderes através dos companheiros ou guias animais. Para iniciar esta relação, o aspirante a kuiã deveria entrar na mata virgem, coletar folhas de palmeira e confeccionar recipientes para armazenamento de água, que atrairia o companheiro animal. Mais tarde, o futuro kuiã voltaria à mata e identificaria qual bicho havia bebido da água preparada em seu recipiente. Se ele fosse capaz de identificá-lo, beber a água restante e se banhar, passaria a ter aquele animal como companheiro e guia.
Os Kaingangs não eram de natureza violenta e respeitavam outras comunidades indígenas que, porventura, entrassem sobre seus domínios. Não permitiam, contudo, que outras pessoas se instalassem sobre suas terras, cultivando-a e dela tirando seu sustento. O aventureiro que o fizesse era notificado e, em caso de permanência no local, era atacado pelos guerreirosKaingangs.
Eles também eram conhecidos como “Coroados” porque costumavam fazer, no alto da cabeça, uma espécie de coroa, cortando os cabelos em círculo.
O contingente estimado de Kaingangs no oeste paulista no início do século XX era de quatro mil índios. Com o avanço da “civilização” para o interior do Estado, essa população foi dizimada e reduzida a 173. Os truculentos bugreiros utilizaram todo tipo de crueldade e violência para realizar o extermínio, a mando de grileiros.
O território Kaingang em São Paulo se estendia da região de Bauru até Adamantina e do Rio Tietê ao Paranapanema. Os conflitos começaram em 1905, com o início da construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), que partia de Bauru, cruzando o noroeste do Estado e ligando-o com o Mato Grosso do Sul.
O avanço para o interior do Estado foi impulsionado pelo mercado cafeeiro e pelas terras inexploradas. A resistência indígena contava apenas com armas rudimentares. Os bugreiros possuíam armas de fogo com potenciais de destruição muito maiores, como espingardas e facões, o que propiciou grande vantagem na ofensiva dos exploradores.
Os ataques eram realizados durante as madrugadas, enquanto os índios dormiam. Não eram poupadas mulheres nem crianças. Os poucos Kaingangs que sobraram foram confinados, em 1921, em dois aldeamentos localizados em Graúna e Tupã. Este último ganhou o nome de Índia Vanuíre.
Referências bibliográficas
PINHEIRO, Niminon Suzel. Os Nômades, Etnohistória Kaingang e seu contexto. São Paulo 1850 a 1912. Faculdade de Filosofia e Letras. Unesp Assis. Dissertação de Mestrado em História e Sociedade, 1992.
Zona Noroeste, 1928.